domingo, 12 de outubro de 2008

32 Dentes

O que determina a atração entre duas pessoas? A pergunta é antiga e a resposta muitas vezes cai em binarismos ultrapassados na linha dos "opostos que se atraem" ou, ao contrário, de que duas pessoas são felizes juntas se têm "interesses compartilhados". A discussão, todos sabem, é muito mais complexa.


Em 32 Dentes, peça de Nívio Diegues, com Antônio Ranieri e Roberta Uhller, mostra que qualquer tentativa de teoria para essa pergunta é insatisfatória. O texto, de Walner Danziger, conta a história de um escritor (Ranieri) que se envolve amorosamente com uma prostituta (Uhller).


Ele segue a linha dos malditos, a la Pedro Juan Gutierrez e Charles Bukowski – muitas idéias, alcoolismo, sexualidade problemática e ambígua. Ela é uma jovem a quem só restou o corpo como algo de precioso – e mesmo assim ela sonha com o dia em que poderá colocar próteses de silicone nos seios. Os dois vivem tentativas de aproximação sem sucesso. Faltam-lhes algo que os façam viver intensamente uma história de amor.


Mas, afinal, por que recomendar 32 dentes para o público gay? Ainda que a trama gire em torno de um casal aparentemente hétero, será fácil ler nas entrelinhas a complexidade sexual de ambos personagens. A supervalorização da masculinidade por parte do escritor e a erotização, ainda que não concretizada, da relação da prostituta com as amigas são bons indícios. Sem contar que o cafetão – quem diria! – é gay!32 Dentes é, sobretudo, um exercício de pensamento para as questões de gêneros nesses tempos fluidos de pós-modernidade.

Espaço dos Satros I
Praça Roosevelt, 214
Quintas-feiras, às 21h
Tel.: (11) 3258-6345
Ingressos: R$ 20

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