segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Em 1982 morreu a “Pimentinha” Elis, aos 36 anos.

Natural de Porto Alegre, Elis Regina Carvalho Costa, foi a primeira pessoa que inscreveu sua voz como instrumento, na Ordem dos Músicos do Brasil.

Geniosa e exigente, tinha uma índole vulcânica e explosiva. Era bastante polêmica. Foi muitas vezes acusada de ser arrogante e antipática. Dona de uma belíssima voz, em menos de 20 anos de carreira, gravou 31 discos, onde imortalizou algumas das mais belas canções da música popular brasileira em interpretações mais do que apaixonadas. Descobriu talentos como Milton Nascimento, João Bosco, Renato Teixeira, Tim Maia e Ivan Lins.

A gauchinha tímida e recatada que começou a carreira cantando na Rádio Farroupilha de Porto Alegre, deu lugar a uma mulher de personalidade forte e efusiva quando chegou ao Rio de Janeiro para tentar a sorte em 1962.

Desde os 11 anos já fazia sucesso na provinciana Porto Alegre da década de 50, cantando no programa Clube do guri. A primeira vez que esteve na rádio para cantar, o nervosismo foi tanto que jorrou sangue do nariz sem parar, manchando o vestido branco de organdi que a mãe tinha feito para a ocasião tão especial. E foi assim até o fim da vida. Antes de qualquer apresentação, tremia, gaguejava e precisava do incentivo dos colegas para encarar a platéia.

No Rio de Janeiro, fez o primeiro show no antigo bar Botlle´s, em Copacabana. As brigas e inimizades que Elis cultivou a vida inteira começaram a surgir neste tempo, quando ainda tinha 17 anos e precisava se esconder do Juiz de Menores que de vez em quando aparecia por lá.

Decepcionada com as constantes brigas entre os organizadores do show, um belo dia sumiu do mapa sem dar satisfações. Apareceu pouco tempo depois apresentando-se no bar vizinho, no primeiro de uma série de shows que faria com a dupla Miele e Ronaldo Bôscoli.

Nesta época, Elis criou os gestos que se tornariam sua marca registrada. Quando cantava, levantava os braços e girava-os como se fossem hélices de helicóptero. Por isso passou a ser chamada de Hélice. O apelido mais famoso seria dado por Vinícius de Moraes: Pimentinha.

Declarações bombásticas eram comuns nas entrevistas. Falou mal da Tropicália de Caetano e Gil e mais tarde gravou músicas dos dois. Desprezou a bossa nova do marido Ronaldo Bôscoli, mas gravou com Tom Jobim e Roberto Menescal os melhores discos de sua carreira. Chamou os militares da ditadura de “gorilas”, mas cantou na Olimpíada do Exército de 1972.

O talento era intuitivo, Elis nunca estudou canto, teoria musical nem aprendeu a tocar qualquer instrumento que fosse. E fez do palco sua morada, o único lugar onde reinava absoluta e por isso não dividia a glória com ninguém. "Separar-me do palco é a mesma coisa que castrar um garanhão", disse em 1969 numa entrevista a Clarice Lispector. A cada apresentação aprimorava mais sua performance e o sucesso veio à galope, na esteira da bossa nova. Consagrou-se em 1965 cantando Arrastão, de Edu Lobo e Vinícius de Moraes no I Festival da TV Excelsior. Era então uma garota de 20 anos, mas costumava dizer que como cantora "tinha 40 anos bem-vividos".

Na TV Record apresentou, ao lado de Jair Rodrigues, o programa Fino da Bossa, considerado até hoje um dos mais importantes da história da televisão brasileira. Com Jair gravou alguns de seus discos mais vendidos, Dois na Bossa, volumes I, II e III.

Do casamento de poucos anos com o compositor Ronaldo Bôscoli, em 1967, costumava dizer que só levou de bom o filho João Marcelo e um certo amadurecimento pessoal. Juntos protagonizaram brigas homéricas, geralmente em público.

Nesta época, embarcou numa promissora carreira internacional que só não deu mais certo porque não conseguia ficar muito tempo longe do Brasil. No Olympia de Paris, em 1968, foi ovacionada e voltou ao palco seis vezes depois do final do show. Após temporada de sucesso na Europa, casou-se com o pianista e arranjador César Camargo Mariano, com quem viveu durante nove anos e teve dois filhos, Pedro e Maria Rita.

Presença constante na televisão, tinha uma legião de fãs que compravam seus discos e iam aos shows. Falso Brilhante levou ao Teatro Bandeirantes mais de 280 mil pessoas em 257 apresentações, em São Paulo (1975/76). Só Elis era capaz dessas coisas.

Em janeiro de 1982, cheia de planos para o novo disco e cantando melhor que nunca, foi encontrada morta no apartamento onde morava no bairro nobre dos Jardins, em São Paulo, aos 36 anos. A causa: overdose de mistura de cocaína com álcool. O vulcão apagou, mas no dia seguinte os muros do País amanheceram com uma frase pichada pelos fãs: Elis vive”.

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